Não sou saudosista, não tenho por hábito olhar para trás, lastimando a minha vida nem a vida dos outros. Contudo, isto não significa que não seja capaz de ver a obra feita, ou por fazer, nem de ver o rumo que algumas coisas tomaram após um passado recente no qual me envolvi.
Hoje, na qualidade de "cliente", tive que me deslocar à sede do Parque Natural do Pico, local onde trabalhei alguns anitos, serviço para o qual contribui, superiormente assessorado por técnicos competentes no exercício das suas funções e de funções que nada tinham a ver com aquilo para que haviam sido contratados. Considero que foram tempos inolvidáveis de grandes lutas internas na afirmação de uma ilha, através das suas mais-valias ambientais e culturais.
Deparei-me, hoje, no Centro de Interpretação da Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico com aquilo que considero ser uma regressão em termos do retorno que espaços como aquele devem ter para os locais, ou seja, após a criação de taxas e valores de acesso ao centro, deparei-me com a gratuitidade do acesso ao centro de interpretação.
Nada disto seria estranho, não fossem as elevadas limitações financeiras que atravessamos, não fosse natural que quem quer ver pague, pois é assim que as coisas acontecem em qualquer país do mundo, onde, para vermos as coisas mais simples e sem significado pagamos.
Nada disto seria estranho se não víssemos uma obra recuperada há tão pouco tempo, candidata a prémios, a cair aos bocados, com telhas reviradas, metais a cair de enferrujados.
Mais uma vez, salta à vista a constatação de que a distância não é boa gestora. Mais uma vez volto a afirmar que é um erro grave a manutenção de uma empresa pública para a gestão de todas as estruturas ambientais dos Açores. A criação da AZORINA foi uma espécie de "assassinato" da afirmação do Pico ( e de outras ilhas) no contexto nacional e internacional. Mais uma vez, a ansiedade de centralismo e de protagonismo vem pôr por terra aquilo que é óbvio: que o Pico é uma ilha excecional!
quinta-feira, junho 27, 2013
sábado, junho 15, 2013
O Perigo dos Centralismos Nacionais e Regionais
O Governo dos Açores tem vindo ativamente a contestar a
posição de Lisboa que pretende centralizar no Governo de Portugal a gestão do
mar dos Açores, no que à sua exploração diz respeito. Este repentino interesse
pelo mar dos Açores por parte do governo português não surge do nada, mas sim
da expectativa que se tem vindo a criar da enorme riqueza que se pensa existir,
no que a minérios diz respeito.
Achamos que o Governo dos Açores está correctamente a envidar
esforços para que essa gestão não fuja das suas mãos, pois os centralismos em
nada beneficiam o todo nacional, pelo contrário, criam, neste caso, nos
Açorianos, um sentimento de injustiça na população visada e mostra claramente a
gulodice do governo português por algo que até aqui não os aquecia nem
arrefecia.
Vem esta introdução, por incrível que pareça, a propósito de
outros centralismos periféricos que por cá se andam a criar. Na última edição
deste semanário, saltou-me à vista o seguinte título: “Pico perde tutela do
Laboratório de Enologia para São Miguel”. Nada haveria de estranho se não fosse
o mesmo governo que luta contra o centralismo de Lisboa a promover a
centralidade de São Miguel sobre algo que historicamente tem uma ligação
umbilical à ilha do Pico.
A perda desta tutela representa mais um passo no caminho de
esvaziamento de competências de uma ilha, penso que no pressuposto da
rentabilização de recursos financeiros, mas que sempre me pareceu um perfeito
disparate no que a coisas da vinha e do vinho respeita.
Desde sempre fui um defensor de que a Paisagem Protegida da
Cultura da Vinha da Ilha do Pico deveria ser uma realidade, de certa forma,
autonomizada em relação aos poderes locais e regionais, posição que nunca foi
possível fazer vingar. Por outro lado, sempre me pareceu estranho que questões
culturais estivessem a cargo de um pelouro governativo que nunca soube dar o
devido valor a essa realidade que sempre interferiu com valores ambientais,
sempre os feriu e sempre os danificou. Principalmente nos últimos anos, a
Paisagem da Cultura da Vinha veio sendo olhada com desdém, mesmo como uma
ameaça a outras ideias de centralidade arquipelágica, que nunca me cansarei de
tentar combater, independentemente da cor política com que simpatize.
A notícia do Ilha Maior vem, de novo, aguçar o espírito dos
picarotos para a incontornável necessidade de se unirem esforços na ilha, no
sentido de serem criadas condições políticas para que diferentes pelouros que
interferem com a vinha e o vinho na nossa ilha se ponham de acordo e que
apresentem propostas convincentes que promovam a agregação desses diferentes
atores, numa entidade que sirva de chapéu ao desenvolvimento económico,
turístico, cultural e mesmo ambiental da nossa ilha, numa visão agregadora e não
sectorial.
Tudo temos a ganhar e nada a perder com esta postura de
ilha, uma postura que mostre, de uma vez por todas, que estamos unidos em volta
de um propósito que todos beneficiará, inclusivamente aqueles que não são do
Pico, pois o bem do Pico é o bem dos Açores.
Mais uma vez, iremos ouvir o conselho de ilha a barafustar,
iremos ouvir vozes a dizer cobras e lagartos do governo e do secretário dos
Recursos Naturais. Mais uma vez corremos o risco de que não nos ouçam porque
não estamos unidos, porque colocámos os interesses de alguns políticos em
primeiro lugar, à frente dos interesses da nossa ilha.
É pois hora de lutar contra os centralismos nacionais,
mas é também hora de fazermos ver aos defensores da descentralização em relação
ao país que a descontinuidade geográfica é inimiga de centralismos
despropositados, de fazer ver aos nossos atuais e futuros eleitos que têm que
ser coerentes com aquilo que apregoam e que se deixem de jogos de interesse
para bem dos Açores como um todo. Caso contrário, mais valerá obrigarem-nos a
sair do Pico e de outras ilhas e concentrarem-nos todos numa reserva indígena
em território micaelense, algures entre o Pico da Pedra e o Faial da Terra.
Subscrever:
Mensagens (Atom)