Quando em 1996 decidi voltar ao Pico, fi-lo com a convicção de que regressava para a minha terra, para o local onde nascera e aonde prometera regressar. Ao sair da casa de meus pais, foi essa a promessa que fiz, depois de me ter despedido deles.
Hoje, embora pesem as críticas e os despeitos, mantenho firme a convicção de que a decisão tomada foi correcta, não obstante os momentos de desânimo.
Quando olho para o Pico de agora e o comparo com o Pico de 1996, vejo uma ilha em transformação, embora com alguns riscos de se tornar desfigurada e desvirtuada. No entanto, vejo a esperança em dias melhores, sem que se esteja permanentemente à espera de promessas vãs, feitas pelos costumeiros, que já não me conseguem desiludir, pois aí, já batemos no fundo.
Sou do concelho da Madalena, mas sou do Pico e pelo Pico.
Não me preocupa o facto do porto comercial do Pico ser em São Roque, pois a verdade é que temos um porto comercial. Não adianta mais dizer-se que havia baías melhores no Pico. É em São Roque que o porto está.
Lamento a localização do aeroporto do Pico, pois é sabido que aquela localização, politicamente arranjada, veio prejudicar a ilha.
Alegro-me pela protecção da orla costeira da vila das Lajes. Era uma necessidade. Felizmente, houve visão para aproveitá-la e fazer-se um porto de recreio.
Insatisfaz-me o Plano de Ordenamento Turístico dos Açores e o que ele preconiza para o Pico como espaços vocacionados para o turismo. É extremamente redutor.
Rejubilo com o ordenamento que São Roque conseguiu fazer no Cais do Pico. A expansão deve ser planeada.
Critico os atrasos constantes na construção de um Centro de Saúde em condições na vila da Madalena. Nunca iremos ter um hospital, nem bloco de partos, mas, quando aquele centro estiver construído e bem apetrechado, teremos a certeza de que, pelo menos tecnicamente e geograficamente, a ilha ficará mais bem servida para situações de evacuação de doentes para o Faial. Quer aceitemos quer não, é lá que está o nosso hospital. Não há contestação possível!
Mas ser da Madalena também é ser do Pico:
Por que razão, no mesmo ano, afectando a época alta do turismo, se decide fechar o Hotel Pico e iniciar as obras do Hotel Caravelas? Onde irão ficar os turistas do Pico no presente ano? No Faial, calro está. Como poderemos reivindicar mais voos para o Pico se não temos onde alojar as pessoas que neles vêm?
Quem me explica o facto de ainda não estar a ser planeada a extinção da actual zona industrial, preparando-a para tornar-se na zona privilegiada de expansão da vila com a Barca ali ao lado?
Por que raio ainda não está construído um auditório municipal em condições e que possa albergar eventos de relevo para a nossa ilha.
Quais as razões que levam ao asfaltamento desregrado de vias, tornando-as em autênticos rios em dias de chuva abundante?
Sou do Pico e pelo Pico. Amo esta ilha, mas por vezes desgosta-me o facto dos interesses da iha não estarem permanentemente em primeiro lugar quando se trata da sua defesa, feita por quem de direito.