Quando era miúdo, embora lá em casa não se passassem as faltas que noutras se podiam observar, nem sempre a mesa era posta com pão de trigo. Ainda não se tinha adoptado a moda dos papos secos e era o pão com as extremidades mais altas que o centro que fazia as delícias de toda a gente.
Cansado de uma vida a pão de milho e bolo de milho, o meu avô não dispensava o seu quinhão de pão feito da fina farinha do trigo proveniente da padaria da Madalena.
Quanto àquilo que me diz respeito, não recusava comer o bolo de milho, embora achasse que se deveria comprar mais um pouco de pão de trigo para que ele não me faltasse.
Quando chegava da escola, agarrava-me por regra a metado de um pão de trigo, rachava-o pelo meio e recheava-o com coisas muito boas: queijo de São Jorge, manteiga que se vendia na altura embrulhada numa espécie de papel vegetal reforçado, bananas e, com um pouco de sorte, ainda se arranjava lugar para esmagar um chocolate. Grande boca para tanta altura! E que belo estômago que nunca se queixava de tamanhos atentados!
Mas falemos do bolo de milho.
Ninguém dava um escudo por um bolo de milho há alguns anos atrás, pois ele era o pão dos pobres, sinal de que não havia dinheiro suficiente para se comprar o tão apetecido pão de trigo.
Actualmente, contudo, assistimos ao inverso. Raro é o dia que não compramos bolo de milho ou pão de duas farinhas (pão de milho), numa ânsia incontida de matar saudades de tempos idos, recordando, afinal, coisas boas e saudáveis que o passado nos dava.
Depressa, também, a tradição tornou-se negócio e eis-nos na época do "ready-made" e a procura do bolo de milho dá-se nos modernos centros de culto dos nossos tempos que são os hipers. Aí não faltam bolos de milho tradicionais para todos os gostos, sempre com o mesmo feitio e com alguma variação de preços que, no entanto, não invalida aquilo que passo a referir:
O último bolo de milho que comprei ficou-me um pouco atravessado no "portal dos côcos", não pelo mau sabor, não pelo facto de estar mal cozido, mas porque vistas bem as coisas, por um punhado de farinha escaldado com água e sal à mistura tive que pagar qualquer coisa como € 1,49! Na moeda antiga 150$. O aumento foi grande no último ano, se calhar a madeira usada na cozedura acompanhou os preços do barril de petróleo! Poderá ser uma explicação! Há um ano, compraria o mesmo bolo por € 1,00 ou € 0,95!
Compreende-se que o preço do bolo de milho não pode ser correspondente à matéria prima utilizada na sua confecção, mas também acho que se está a exagerar no preço que se está a praticar actualmente.
No entanto, trata-se da lei da oferta e da procura e a verdade é que todo o bolo de milho que chega às prateleiras dos hípers e supermercados continua a ser vendido. Outra razão não poderá existir para que se continuem a praticar tais preços.
PS. Daqui a pouco vou ao híper comprar pão e acho que mesmo assim vou comprar um bolinho. Mas pra que raio é que eu fui escrever este artigo!? Se calhar deveria propor o boicote à compra de bolo de milho, mas não me apetece!
segunda-feira, maio 29, 2006
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