Anda por aí uma polémica pelo facto, parece, de uma agência de viagens andar a mandar as pessoas ao Pico e darem uma volta rápida pelo Faial, porque lá não há muito para se ver.
Tem sido um escândalo que ameaça vir a tornar-se causa política de debate nas próximas autárquicas, caso não seja resolvida esta celeuma, caso a agência não se retrate e passe a mandar gentes de volta ao Faial, pois, como todos sabemos, em qualquer lugar há sempre qualquer coisita para se ver.
No caso do Faial, penso que todos estamos de acordo de que se trata de uma ilha com belezas que merecem a pena serem vistas com a devida proporção, para quem pretende viajar para o triângulo Pico, Faial, São Jorge. E falo propositadamente de proporção, pois há que saber pesar corretamente o tempo que deve ser dispensado para que os nossos visitantes possam apreciar aquilo que cada um tem para dar.
Pior do que um agente de viagens ter dito a um turista em particular que o Faial não tem nada para se ver, algo que será de imediato desmentido quando se avista o Faial a partir do Pico, é vermos recorrentemente autocarros cheios de turistas vindos na lancha da manhã, esbafuridos a correr que nem loucos, para darem uma volta pelo Pico, a tempo de apanharem a lancha das 18h00 de regresso.
Não tenho visto ninguém com responsabilidades pelo pelouro do turismo, que até são faialenses, a insurgir-se contra esta situação! Estarei errado? Penso que não.
Por outro lado, e voltando à proporção, será que esta volta de autocarro é proporcional ao tempo despendido no Faial para visita às muitas maravilhas que aquela ilha tem para oferecer? Não tenho bem a certeza do que é oferecido aos turistas de excursões no Faial, mas penso que, em termos de tempo, será mais do que a fulgorante volta ao Pico em tempo record. Quase dava para o Guinness como o baile da Chamarrita ao som de aparelhagem a rodar CD.
No Pico, os turistas passam de raspão pelas vinhas património mundial, e correm em direção às Lajes com insuspeitas visitas de permeio. Por ali comerão e transversalmente passarão a São Roque e passam pelo Lajido e Cachorro na secreta esperança de abandonarem a ilha no tal barco que os levará de volta a um jantar no Faial.
De fora ficou a devida atenção ao Património Mundial, a visita à Gruta das Torres (que sabemos não ser para todos) uma aturada explicação sobre a vila das Lajes, uma visita ao planalto central e a toda a sua beleza, a ponta da ilha, os miradouros de cortar a respiração, um mergulho numa das muitas piscinas naturais, o sentir-se alto, já bem alto, junto à Casa da Montanha. Mas mais do que tudo isto, de fora ficou o contacto com a autenticidade das pessoas do Pico, com as suas gentes, a sua forma de pensar, o seu bem receber! Garantidamente, estes turistas passaram pelo Pico mas não viram o Pico! Acham os faialenses isto justo?
Dir-me-ão, mas isso ultrapassa os organismos oficiais. Eu respondo, mas afinal o que é que os políticos andam para aí a fazer?
O triângulo ficará para uma próxima escrita na pedra!